...marcos de desenvolvimento, crianças diversas brincando no parquinho, segundo filho, avós por perto, família grande cheia de gerações... Todos estes encontros e ambientes podem gerar uma corrente de comparação e competição.
Vejam o diálogo a seguir de duas mães:
- Seu filho tem quantos anos?
- Tem 1 ano e meio.
- Ah! Grandão, pensei que tinha mais... Ele já fala?
- Não.
- Minha filha falou com 10 meses! Ele tá na escolinha?
- Não.
- Ele é esperto, mas não fala quase nada ainda?
- Não.
- Você já começou o desfralde?
- Não.
- Minha filha desfraldou com 1 ano. Ele já come a mesma comida que todos da casa?
- Come.
- E come sozinho ou é vovê quem dá?
- Aí depende! Tem dia que ele começa comendo sozinho para depois eu terminar dando, tem dia que é o contrário, e tem dia que eu que dou do início ao fim. Quando não come direito ele mama depois!
- Ah! Minha filha tá na escolinha desde 1 ano e meio e come sozinha desde então! Peraí! Ele mama ainda?
- Sim mama.
- Ele dorme à noite toda?
- Não! Acorda duas vezes noite.
- Vixi! A minha dorme à noite toda desde os três meses!
Este diálogo podia ser real, porque a conversa de uma mãe para outra é mais ou menos assim. Aí você sai de uma conversa dessas pensando: "Será que meu filho tá mais lento? A filha dela falou com 10 meses, já come sozinha, já vai para escolinha, desfraldou e meu pequeno nem no caminho está para isso... " Chega em casa e começa às cobranças, tenta desfraldar no susto, evita de dar de mamar e a criança se esguela, passa a corrigir o pequeno enquanto ele tenta acertar a boca, até tornar o momento da refeição no estresse familiar compartilhado, marca de conhecer as escolas para matricular seu filho pra ontem, e está decida a parar a fazer ele parar de acordar toda noite... Faz isso tudo com o intuito de o mais rápido possível ver ele correr atrás do prejuízo, afinal ele já está meses atrás na corrida pelos marcos de desenvolvimento, quando comparado a filha da outra moça.
Gente pelo amor de Deus! Para tudo que eu quero descer!
Vamos lá eu demorei uns meses para entender que cada criança é única, cada um tem um ritmo próprio, os marcos são uma baliza mas não uma obrigação, e às vezes seu bebê avança além da idade em determinadas coisas e em outras não. Para quê acelerar tudo? Depois a gente fica com a ideia de que foi tudo rápido, que não aproveitamos o momento... Crianças ansiosas devem surgir dessa ânsia desmedida de querer vê-los adultos em corpos infantis.
Minha mãe me chamou a atenção tantas vezes dizendo "ele é um bebê ótimo! Ele quase não dá trabalho! Ele é só um bebê!" ...O tempo de por no colo é quando o corpo é pequenino, o tempo de dar mamar e dividir a cama é quando eles ainda são pequenos mesmos, beijar um machucado como se tivesse acabado de passar um remédio instantâneo só funciona quando são pequeninos, de vê-lo crescer no tempo, pedir espontaneamente para fazer xixi, pedir para tirar a fralda, falar as primeiras palavras... Sem correria! No seu próprio ritmo! Pensar assim deixa tudo tão mais leve para mim.
Quando li o livro "Crianças francesas não fazem manha" me chamou a atenção a abordagem de olhar a criança como um indivíduo, e isso mexeu comigo porque sei que desrespeitei meu filho algumas vezes com a pressa de que ele crescesse em alguns aspectos, reclamei com ele algumas vezes esquecendo que ele é apenas um bebê e que ainda está aprendendo a viver... Hoje não quero desfralda-lo na pressa, estou tentando o desmame noturno sem lágrimas, estou menos neurótica com a alimentação dele... Parei de ler os livros e sites sobre todos os marcos de desenvolvimento que ele deveria alcançar de x em x tempo. Hoje estou olhando para ele como um bebê, vendo crescer e de novo ficando muito contente com as façanhas infantis do dia a dia. Inevitavelmente cada dia ele está mais independente! Cada dia mais esperto, cada dia menos bebê! Então vamos aproveitar o que temos para hoje!
Mais uma Mainha
01.07.2016
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